quinta-feira, 10 de novembro de 2011

40 graus de lembrança

Sob um sol de raio x
Sento num banco
de trafego urbano
e revisito teu corpo
palmo a palmo

lentamente...

lentamente...

A epiderme liquidifica-se
evapora
e te encontra,

te envolve
em dança
num abraço
quente

tal qual a fumaça
que lançamos
ontem

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

sem título

Sem planos de despertar
caiu o corpo de sono
nas primeiras horas
de uma madrugada

Sem convites, o sol do meio-dia
bate à janela.
Ela abre os olhos, expõe a retina,
reclama sem pesar a hora perdida.

Sem roupa, vaga pela casa
abrindo portas,
feridas
e janelas...

Sem partituras
tira com suave fúria
o som impuro
das garrafas vazias que
sobre a mesa permanecem.

Sem proteção,
no lixo,
constantes cacos de vidro
objetos de erros perdidos
que sem reflexo
espelham
caminhos de (des)constituição

Sem culpa surgem respostas
pra nenhuma pergunta
sobre o que foi
e o que virá

Sem ir ao trabalho
ela sem pressa e
sem demora
interroga
o presente e o passado:

O que me tornei?

Sem coleira o cão sem plumas
responde com olhar de torpa
canção:

ser sem eira
ser sem beira
ser sem lei
e sem pecados
que rega com prazer
seus doces frutos errados.



obs: cão sem plumas = apologia ao poema "O cão sem plumas" de João Cabral de Melo Neto.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Pequeno Sorvo de Vida Alheia

No penúltimo outubro do fim de um mundo
Madruga com a chuva um velho vagabundo
Sem camisa
Sem camiseta
Barriga inchada de tanta cerveja

Na cama pequena de um hotel barato
Divide sem tratos
seu cheiro, seu gosto,
seu espinho de cactos

Depois no banheiro
em gozo semântico
chora o velho
sem saber
a primeira morte
do último romântico.

(ou não..)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

...havia caído de bêbado por cima daquelas mesas, sem que ninguém o assassinasse, justamente a única coisa que queria, pois a morte era o único lugar que merecia uma visita...
(Bukowski)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Os Três Mal-Amados - João Cabral de Melo Neto

"João amava Teresa que amava Raimundo
 que amava Maria que amava Joaquim
que amava Lili..."
(Carlos Drummond de Andrade)

JOÃO:

Olho Teresa. Vejo-a sentada aqui a meu lado, a poucos centímetros de mim. A poucos centímetros, muitos quilômetros. Por que essa impressão de que precisaria de quilômetros para medir a distância, o afastamento em que a vejo neste momento?

RAIMUNDO:

Maria era a praia que eu frequentava certas manhãs. Meus gestos indispensáveis que se cumpriam a um ar tão absolutamente livre que ele mesmo determina seus limites, meus gestos simplificados diante de extensões de que uma luz geral aboliu todos os segredos.

JOAQUIM:

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

JOÃO:

Olho Teresa como se olhasse o retrato de uma antepassada que tivesse vivido em outro século. Ou como se olhasse um vulto em outro continente, através de um telescópio. Vejo-a como se a cobrisse a poeira tenuíssima ou o ar quase azul que envolvem as pessoas afastadas de nós muitos anos ou muitas léguas.

RAIMUNDO:

Maria era sempre uma praia, lugar onde me sinto exato e nítido como uma pedra - meu particular, minha fuga, meu excesso imediatamente evaporados. Maria era o mar dessa praia, sem mistério e sem profundeza. Elementar, como as coisas que podem ser mudadas em vapor ou poeira.

JOAQUIM:

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

JOÃO:

Posso dizer dessa moça a meu lado que é a mesma Tereza que durante todo o dia de hoje, por efeito do gás do sonho, senti pegada a mim?

RAIMUNDO:

Maria era também uma fonte. O líquido que começaria a jorrar num momento que eu previa, num ponto que eu poderia examinar, em circunstâncias que eu poderia controlar. Eu aspirava acompanhar com os olhos o crescimento de um arbusto, o surgimento de um jorro de água.

JOAQUIM:

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

JOÃO:

Esta é a mesma Teresa que na noite passada conheci em toda intimidade? Posso dizer que a vi, falei-lhe, posso dizer que a tive em toda a intimidade? Que intimidade existe maior que a do sonho? a desse sonho que ainda trago em mim como um objeto que me pesasse no bolso?

RAIMUNDO:

Maria não era um corpo vago, impreciso. Eu estava ciente de todos os detalhes do seu corpo, que poderia reconstituir à minha vontade. Sua boca, seu riso irregular. Todos esses detalhes não me seria dificil arrumá-los, recompondo-a, como num jogo de armar ou uma prancha anatômica.

JOAQUIM:

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

JOÃO:

Ainda me parece sentir o mar do sonho que inundou meu quarto. Ainda sinto a onda chegando à minha cama. Ainda me volta o espanto de despertar entre móveis e paredes que eu não compreendia pudessem estar enxutos. E sem nenhum sinal dessa água que o sol secou mas de cujo contacto ainda me sinto friorento e meio úmido (penso agora que seria mais justo, do mar do sonho, dizer que o sol o afugentou, porque os sonhos são como as aves não apenas porque crescem e vivem no ar).

RAIMUNDO:

Maria era também, em certas tardes, o campo cimentado que eu atravessava para chegar em algum lugar. Sozinho sobre a terra e sob um sol que me poderia evaporar de toda nuvem.

JOAQUIM:

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unha, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

JOÃO:

Teresa aqui está, ao alcance de minha mão, de minha conversa. Por que, entretanto, me sinto sem direitos fora daquele mar? Ignorante dos gestos, das palavras?

RAIMUNDO: 

Maria era também uma árvore. Um desses organismos sólidos e práticos, presos à terra com raízes que a exploram e devassam seus segredos. E ao mesmo tempo lançados para o céu, com quem permutam seus gases, seus passáros, seus movimentos.

JOAQUIM:

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

JOÃO:

O sonho volta, me envolve novamente. A onda torna a bater em minha cadeira, ameaça chegar até a mesa. Penso que, no meio de toda esta gente da terra, gente que parece ter criado raízes, como um lavrador ou uma colina, sou o único a escutar esse mar. Talvez Teresa...

RAIMUNDO:

Maria era também a garrafa de aguardente. Aproximo o ouvido dessa forma correta e explorável e percebo o rumor e os movimentos de sonhos possíveis, ainda em sua matéria líquida, sonhos de que disporei, que submeterei a meu tempo e minha vontade, que alcançarei com a mão.

JOAQUIM: 

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

JOÃO:

Talvez Teresa... Sim, quem me dirá que esse oceano não nos é comum?

RAIMUNDO:

Maria era também o jornal. O mundo ainda quente, em sua última edição e mais recente.

JOAQUIM:

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

JOÃO:

Posso esperar que esse oceano nos seja comum? Um sonho é uma criação minha, nascida de meu tempo adormecido, ou existe nele uma participação de fora, de todo o universo, de sua geografia, sua história, sua poesia?

RAIMUNDO:

Maria era também um livro susto de que estamos certos, susto que praticar, com que fazer os exercicíos que nos permitirão entender a voz de uma cadeira, de uma cômoda; susto cuidadosamente oculto, como qualquer animal venenoso entre folhas claras e organizadas dessa floresta numerada que leva dísticos explicativos: poesia, poemas, versos.

JOAQUIM:

O amor comeu meu estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava não saber falar delas em verso.

JOÃO:

O arbusto ou a pedra aparecida em qualquer sonho pode ficar indiferente à vida de que está participando? Pode ignorar o mundo que está ajudando a povoar? É possível que sintam essa participação, esses fantasmas, essa Teresa, por exemplo, agora distraída e distante? Há algum sinal que a faça compreender termos sido, juntos, peixes de um mesmo mar?

RAIMUNDO:

Maria era também a folha em branco, barreira oposta ao rio impreciso que corre em regiões de alguma parte de nós mesmos. Nessa folha eu construirei um objeto sólido que depois imitarei, o qual depois me definirá. Penso para escolher: um poema, um desenho, um cimento armado - presenças precisas e inalteráveis, opostas a minha fuga.

JOAQUIM:

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão me asseguram. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

JOÃO:

Donde me veio a ideia de que Teresa talvez participe de um universo privado, fechado em minha lembrança? Desse mundo que, através de minha fraqueza, compreendi ser o único onde me será possível cumprir os atos mais simples, como por exemplo, caminhar, beber um copo de água, escrever meu nome? Nada, nem mesmo Teresa.

RAIMUNDO:

Maria era também o sistema estabelecido de antemão, o fim aonde chegar. Era a lucidez, que, ela só, nos pode dar um modo novo e completo de ver uma flor, de ler um verso.

JOAQUIM:

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

Fim de "Os Três Mal-Amados"

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O último dia de um mês
pergunta sobre o que você fez
Deitado na cama uma mão na cabeça
respondes sem pressa:

Não interessa

Disfarças com desdém o desconhecimento
que de si próprio tens
E entra sorrindo
mais uma vez
na barca furada do próximo mês

domingo, 14 de agosto de 2011

18h na Rua das Barbearias
homens com sorriso de Monalisa
esperam em tranquila ânsia
o ressurgir do eterno corte de cabelo.

O tempo que carregávamos
embaixo do braço nos traiu.
Não dormimos como antigamente
e a memória tem criado bolor
nas pontas dos dedos.

Não perdoamos o tempo - ele nunca nos pediu perdão.
esperamos
envelhecemos
e o corte de cabelo dos homens permanece eterno.

domingo, 7 de agosto de 2011

O fim do mundo - João Cabral de Melo Neto

No fim de um mundo melancólico os homens lêem jornais.
Homens indiferentes a comer laranjas que ardem como o sol.

Me deram uma maça para lembrar a morte.
Sei que cidades telegrafam pedindo querosene.
O véu que olhei voar caiu no deserto.

O poema final ninguém escreverá desse mundo particular de doze horas.
Em vez de juízo final a mim me preocupa o sonho final.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Espelho

Você disse que minha cara costumava ser mais bonita aos domingos. Tentei justificar, disse que estava cansada. Sentada no degrau da entrada da casa, sentia a umidade penetrar o corpo e observava lentamente o cair da garoa ligeira. A fumaça do teu cigarro envolveu zombeteira a sensatez dos meus raros pensamentos certos. Você nem aí. Descalço na chuva, fingia dar ouvidos ao relato arrempedido dos fatos desgraçados da noite anterior. Esvaziei a angústia. Você me deu um peteleco no nariz e entrou em casa rindo da minha meninice. Fiquei só com minhas misériazinhas e vi que ás vezes a dor é doce como sangue falso. Então levantei e me pedi desculpas.

domingo, 24 de julho de 2011

processo de alguma parte

Processando fatos e memórias
pra entender origens e destinos
dos desejos controversos
que sem pedidos me possuem.

Desistência em calmaria
planos frustrados
e o universo de ouvidos sujos pra mim

O  teu sorriso
é agora: distante miragem
e a tua voz nem é tão doce.

Despedir-se da má formada paixão
é necessidade
escolha não

sigo a preservar estima própria

tentando
parar de querer querer
o que não quer

quarta-feira, 13 de julho de 2011

quem possui seu tempo?

você se vende 60h/s

e diz a si mesmo, tentando justificar:

- Tenho contas a pagar!

E assim nessa ausência de si

não consegues perceber que são as contas que te apagam.


"Todos os homens, de todos os tempos, e ainda os de hoje, dividem-se entre escravos e livres, porque quem não dispõem de dois terços do próprio dia é um escravo, não importa o que seja de resto: homem de Estado, comerciante, funcionário público ou estudioso." (F. Nietzsche)


quarta-feira, 6 de julho de 2011

quinta-feira, 30 de junho de 2011

5:41 - fluxo irrefletido - compulsão insone


Restos de pneus queimados
Sinais de manifestação recente
Redirecionando
Carregando falhas de páginas
Sem parar de pensar em coisas não vividas
Deposito certezas em (im)possibilidades
e depois do assalto não dormi mais

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A Flor e a Náusea - Carlos Drummond de Andrade

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.

O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que triste são as coisas, consideradas em ênfase.

Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam pra casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o  perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuida em casa.

Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios.
Garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é uma flor.

Sento-me no chão da capital do país
as cinco horas da tarde e lentamente passo a mão
nessa forma insegura.

Do lado das montanhas, nuvens macias avoluman-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Quê c vai fazer amanhã?


15:30 – Ato de reivindicação do piso salarial dos professores – local: Praça da Bandeira – maiores informações no link: http://sintejoinville.blogspot.com/

20h – Espetáculo: “Bonecrônicas” (teatro de animação/ Cia Anima Sonho de Porto Alegre – Gratuito – local: SESC/Jlle – R: Itaiópolis, 470, América – maiores informações:

21h – Dj PHC (Ramones, Smiths,Strokes, Depeche Mode, Radiohead, Cure) – Consumação: 5 reais. Local: Pixel - R: Almirante Jaceguay, 167 D - Santo Antônio.

22h – Quartas Soul Bovary com Sociedade Soul de Floripa– Local: Bovary Snooker Pub – maiores informações:  http://www.bovarysnookerpub.com.br/

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Errata do Cartaz

O Debate abaixo anunciado será dia 18 ás 15h - no cartaz está as 18h =/

obs: não esqueçam de ler o texto antes. huahaua..

terça-feira, 7 de junho de 2011


O Movimento Passe Livre convida todos para o debate sobre o texto A  Distribuição da Carga Tributária: quem paga a conta? do economista Evilásio Salvador. O texto pode ser baixado nesse link.

O texto trata da questão da carga tributária no Brasil, partindo de uma análise conceitual do imposto (imposto progressivo, regressivo, transferível, intransferível, sobre consumo, sobre renda, sobre patrimônio etc.) e, em seguida, propõe uma leitura da realidade brasileira a fim de demonstrar quem financia realmente o Estado brasileiro.
Do ponto de vista do movimento social, a importância do discussão e leitura desse texto reside em compreendermos à lógica de arrecadação do Estado, tendo em vista que defendemos uma política pública de transporte coletivo que tribute as classes mais altas.

O debate será realizado no Centro de Direitos Humanos (Rua Plácido Olímpio de Oliveira, 660, Bucarein) às 15h do dia 18 de junho de 2011, sábado.

Evilásio Salvador é economista, foi assessor sindical (bancários e auditores da receita federal) e hoje é professor da Universidade de Brasília.

O debate é aberto a todos, não é fechado a membros do MPL, mas sim direcionado a todos que desejam conhecer, debater e compreender um tema público de primeira importância que é a questão da arrecadação do Estado. Sinta-se convidado.

Movimento Passe Livre, 6 de junho de 2011.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Por ora, sou apenas alguém que inventa e usa verdades provisórias como suspensórios para as calças da paz.

domingo, 29 de maio de 2011

ciclos

Quantas vitórias em guerras perdidas inventei nessa vida?

Uma revolução se inicia a duas páginas do fim de um livro...

Vejo que meu caminho é sempre irremediavelmente incerto

e mesmo assim

sigo o som da minha crença indômita

danço num círculo

o ciclo que só a mim pertence

e sem parar aguardo

a fertilidade da terra me parir num outro novo

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Saí de mim e perdi o endereço

se alguém encontrar meu corpo

diga que não trabalhe

estamos em greve

diga que leve o cachorro pra passear

não só de ração vive um cão

dê estadia á solidão

ela é o prelúdio de minha volta

terça-feira, 26 de abril de 2011

Insônia parte I - Cem anos de Solidão - Gabriel Garcia Marquez

Uma noite, na época em que Rebeca se curou do vício de comer terra e foi levada para dormir no quarto das outras crianças, a índia que dormia com eles acordou por acaso e ouviu um estranho ruído intermitente no canto. Sentou-se alarmada, pensando que tinha entrado algum animal no quarto, e então viu Rebeca na cadeira de balanço, chupando o dedo e com os olhos fosforescentes como os de um gato na escuridão. Pasmada de terror, perseguida pela fatalidade do destino, Visitación reconheceu nesses olhos os sintomas da doença cuja ameaça os havia obrigado. a ela e ao irmão, a se desterrarem para sempre de um reino milenário no qual eram príncipes. Era a peste da insônia Cataure, o índio, não amanheceu em casa. Sua irmã ficou, porque o coração fatalista lhe indicava que a doença letal haveria de persegui-la de todas as maneiras até o último lugar da terra. Ninguém entendeu o pânico de Visitación . "Se a gente não voltar a dormir, melhor", dizia José Arcadio Buendía, de bom humor. "Assim a vida rende mais." Mas a índia explicou que o mais temível da doença da insônia não era a impossibilidade de dormir, pois o corpo não sentia cansaço nenhum, mas sim a sua inexorável evolução para uma manifestação mais crítica: o esquecimento. (p.47)

sábado, 23 de abril de 2011

...tomou um banho com o intuito de desapregar do corpo todo o cheiro e gosto de imundície que com ela se confundiam. Debaixo d'água via flashs dos filtros de sonhos que estampavam-se nas paredes téticas a cada farol de automóvel que passava. Não sabia decifrar as cartas enigmáticas que enviava a si mesma, então se entretia, como uma aranha a tecer uma teia, em seus mistérios, míticos, profícuos e etéreos. Perdida e encantada no labirinto de suas cores, passava horas e horas sem querer voltar... somente quando o encanto tornava-se rude e irônico é que ela percebia sua perdição e buscava em desespero a saída, que em seu imaginário seria vislumbrada a partir de um encontro doloroso com a verdade. Tinha por estratégia marcar o caminho percorrido com cacos de espelho, onde por vezes, inutilmente, tentava encontrar sua imagem e ao mirar-se tudo o que via não passava do reflexo antigo de um caleidoscópio embaçado. Cansada de buscar em si o caminho, pede com orgulho ferido o fio de Ariadne e não sem trabalho, consegue finalmente, sair de sua construção arquitetônica. Como de práxis sem alegações convincentes, ou melhor, sem nenhuma alegação, desmarca o encontro com a verdade e procura um repouso no balanço de um jardim secreto. Ali sentada passa a ouvir a vida como uma serena e desordenada canção. Ela carregava saquinhos de psicologia no bolso e ás vezes plantava essas sementes de soluções para vida alheia... e regava o solo com água imantada de certezas, depois observava paciente a rebentação dos primeiros brotos cor de verde-esperança-desbotado cobrindo o marron-vermelho da terra. Na hora da colheita ela vivia um (des)contentamento febril que descia pelo corpo inteiro em forma de gotas de suor gelado. Sabia desde sempre que não havia chá pra suas mazelas, aí se enganava docemente com mel e cogumelos que brotavam ao nascer do sol nas póstumas ruminações das vacas, que sabiamente na India são sagradas... outra vez ela mergulha em suas cores e dores eternamente num recomeço que não se repete.

terça-feira, 19 de abril de 2011

A máquina de congelar momentos quebrou. Resta-me agora apenas a memória e algumas fotografias antigas. O tempo me escapa entre os dedos provando sua independência em relação ás minhas sagradas vontades. Ele me diz que não o tenho nem para as relações instantâneas e virtuais. Eu concordo que não nos pertencemos. Vivemos aos tapas e aos raros beijos. Hoje mesmo, haverá outra briga: acordei tarde, não tomei nescafé, esperei a água ferver, sentei e tentei escrever, procurei um cd, curti um som fora do you tube e para findar o dia vou encontrar uma amiga de carne, osso, olhos, mãos e coração.

terça-feira, 5 de abril de 2011

INFORME-CONVITE


Reunião de novos membros do MPL Jlle

 

O Movimento Passe Livre Joinville realizará uma reunião para novos membros nesse sábado (09/03), às 14h, no Centro de Direitos Humanos (r. Plácido Olímpio de Oliveira, 660, Bucarein).

A reunião de novos membros serve para explicar os princípios básicos do movimento, como funciona sua estruturação interna e quais são as lutas que o MPL está envolvido. É fundamental que todos que queiram participar da luta por transporte e do MPL participem dessa reunião.


A reunião é aberta, todos e todas estão convidados. Repasse esse convite adiante.

Se você deseja ir, por favor envie um e-mail de confirmação até às 18h de sexta-feira, 08/03, para o mpl.jlle@gmail.com.
  

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Madame Bovary - Flaubert

"Ela, porém, vivia cheia de ambições, de raivas de ódios. Aquele vestido de linhas sóbrias encobria um coração perturbado, de cuja tormenta interior os lábios pudicos não falavam. Estava apaixonada por Léon, e procurava a solidão para poder tranquilamente deleitar-se com o sentimento. A vista do rapaz perturbava a volúpia daquela meditação. Emma tremia ao ruído de seus passos; mas, em sua presença, a emoção desaparecia e não lhe restava senão uma surpresa imensa que terminava em tristeza." p.113.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Palavras sem alma estão ao meu redor.
Quem fica a esperar o nunca mais?
Talvez, todas aquelas tristezas paradas.
Imobilizadas pela ausência 
de uma música que as faça dançar.

Me contaram que...

...ele estava acabado, gordo, despenteado, esparramado num banco duro de um ponto de ônibus. Jogava fumaça no ar num fim de noite com chuva. O ônibus demora a chegar e nem a música lhe faz companhia, acabou a bateria da sua tecnologia. Seus pensamentos são suicidas mal se formam e se precipatam do último andar da vida que um dia teve. O que tem pra comer na geladeira? Há certo resto de almoço? Eu vou até o terminal ou desço em algum caminho?... A espera é uma coisa a toa que sentou do lado dele e ficou a se espelhar. Ele quis desenhar mas teve preguiça de abrir a mochila. Os desenhos que nunca foram feitos são perfeitos e nunca são vistos mais que uma vez... então ele tenta parar de querer. Meninas são bonitas e agora nenhuma lhe dá bola. O ônibus chegou, ele entra sem perceber e senta e vai... quando nota já está em casa na frente do pc... vai varar a madrugada conectado... com seu perfil alternativo cheio de vídeos e sons, ali ele é bem mais visto e acessado do que pessoalmente. Tem a superfície como meta e o raso pra ele é profundo... por fim o sono o abraça. Ele dorme porque não ouve o próprio ronco. Esquece de tudo o que não passou, sonha em fazer as pazes com a solidão mas a noite é breve... Acorda fadigado e mau-humorado, procura uma meia em baixo da cama e encontra quebrado o retrato de uma felicidade antiga. Junta os cacos num canto do quarto e vai trabalhar com um sorriso nostálgico. Ele agora beira a paz.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Da janela daquele quarto vi um beija-flor parado, concentrado a ler partituras invisiveis, inscritas por uma saudade nos fios de luz que atravessam telhados.

terça-feira, 15 de março de 2011

Rap do ônibus - Projota

O pessoal de Sampa está em manifestação contra o aumento das passagens a mais de 2 meses nesse movimento saiu até música. Curtam aí...


 

Letra:
As pernas doem e o suor escorre
E vem no rosto pálido de um homem que não é ninguém
Vai trabalhar, guerreiro, vai trabalhar, bem!

Mais um dia comum na nossa vida comum, com fé
Senhor, nos leve pra onde quiser
Proteja nossos corpos e nos mantenha de pé
Que eu possa entrar e sair vivo de um metrô na Sé
Seria engraçado se não fosse desesperador
Aos olhos de quem me governa, é esse o meu valor
Sardinhas enlatadas são jogadas ao relento
Folhas secas sem vida vão levadas pelo vento
A raiva toma conta, muita treta, normal
Nasce agora um assassino serial
Prefeito que dá o aval, avisa já pra geral
“Economiza porque o buzo vai subir mais um real”
Meia dúzia na rua derruba buzo, incendeia
Alguns sem vê, sem nada, abusam e só falam da vida alheia
Mas a cidade tá cheia
Quanto mais gente, mais impostos, mais lucro pros líderes da aldeia

Me diz quem tem que acordar assim… (É nóiz!)
Me diz quem tem que acordar assim… (É nóiz!)
Me diz quem tem que acordar assim… (É nóiz!)
Me diz quem tem que acordar assim… (É nóiz!)
Ô, cobrador, deixa os menino passar
Vou sofrer uma hora e meia e ainda tenho que pagar
Libera ae, porque tá caro pra caralho
E eu não achei meu dinheiro na bosta, deu mó trabalho

Cuidado onde pisa, pois pode ser meu pé
Cuidado onde alisa, pode ser minha mulher
Veja quem manifesta, o exército de Zé
Cuidado com o que testa, pois pode ser minha fé
Meu povo quer ver melhorar
Porque dá mais trabalho chegar no trabalho do que trabalhar
Mais tarde, quando você ver o pivete roubar
É porque o pai dele tava no buzão em vez de tá lá pra educar
Meu povo tá cansado, já nem se queixa mais
Se vê acostumado e vive essa guerra em paz
Meu povo sente fome, tem que ganhar dinheiro
Pra isso precisa ser o que não quer o dia inteiro
Hoje eu vô pular catraca, na moral
Não vou pagar dois e pouco num serviço que não vale um real
Tem um pilantra comprando iate, enquanto a gente se bate
Pra pagar pra ele à vista a ceia de Natal
(Navio Negreiro hoje não difere cor…)
Amontoa e leva pra lavoura qualquer trabalhador
As mãos cansadas penduradas na barra
De uma gente que chora, mas nunca perderá a sua garra
São Paulo é uma cadeia? Faço a rebelião
Queimar colchão pra ver se alguém melhora a situação
Ninguém se move, ninguém se machucará, então
Enquanto isso eu vou cantando no buzão, assim…

Me diz quem tem que acordar assim… (É nóiz!)
Me diz quem tem que acordar assim… (É nóiz!)
Me diz quem tem que acordar assim… (É nóiz!)
Me diz quem tem que acordar assim… (É nóiz!)
Ô, cobrador, deixa os menino passar
Vou sofrer uma hora e meia e ainda tenho que pagar
Libera ae, porque tá caro pra caralho
E eu não achei meu dinheiro na bosta, deu mó trabalho


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Movimento Passe Livre
Coletivo Joinville