Sem planos de despertar
caiu o corpo de sono
nas primeiras horas
de uma madrugada
Sem convites, o sol do meio-dia
bate à janela.
Ela abre os olhos, expõe a retina,
reclama sem pesar a hora perdida.
Sem roupa, vaga pela casa
abrindo portas,
feridas
e janelas...
Sem partituras
tira com suave fúria
o som impuro
das garrafas vazias que
sobre a mesa permanecem.
Sem proteção,
no lixo,
constantes cacos de vidro
objetos de erros perdidos
que sem reflexo
espelham
caminhos de (des)constituição
Sem culpa surgem respostas
pra nenhuma pergunta
sobre o que foi
e o que virá
Sem ir ao trabalho
ela sem pressa e
sem demora
interroga
o presente e o passado:
O que me tornei?
Sem coleira o cão sem plumas
responde com olhar de torpa
canção:
ser sem eira
ser sem beira
ser sem lei
e sem pecados
que rega com prazer
seus doces frutos errados.
obs: cão sem plumas = apologia ao poema "O cão sem plumas" de João Cabral de Melo Neto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário