sexta-feira, 4 de novembro de 2011

sem título

Sem planos de despertar
caiu o corpo de sono
nas primeiras horas
de uma madrugada

Sem convites, o sol do meio-dia
bate à janela.
Ela abre os olhos, expõe a retina,
reclama sem pesar a hora perdida.

Sem roupa, vaga pela casa
abrindo portas,
feridas
e janelas...

Sem partituras
tira com suave fúria
o som impuro
das garrafas vazias que
sobre a mesa permanecem.

Sem proteção,
no lixo,
constantes cacos de vidro
objetos de erros perdidos
que sem reflexo
espelham
caminhos de (des)constituição

Sem culpa surgem respostas
pra nenhuma pergunta
sobre o que foi
e o que virá

Sem ir ao trabalho
ela sem pressa e
sem demora
interroga
o presente e o passado:

O que me tornei?

Sem coleira o cão sem plumas
responde com olhar de torpa
canção:

ser sem eira
ser sem beira
ser sem lei
e sem pecados
que rega com prazer
seus doces frutos errados.



obs: cão sem plumas = apologia ao poema "O cão sem plumas" de João Cabral de Melo Neto.

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