segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Pra que serve o corpo, se não para dar-se?

     (Obra do artista de Joinville, Fritz Alt)


Ela andava rápida no outro lado da estrada, querendo apenas um café, então seus olhos distraídos prestaram atenção num momento alheio. Ele era um velho e estava caindo. Os carros não paravam de passar e a multidão era feita de indiferenças e direções. Ela quis ser multidão... fingir que não viu e seguir ao café. Pensou: "Logo vai passar alguém para ajudá-lo!". Porém, não teve grande crença nessa pseudo idéia e impetuosa atravessou a rua em direção ao homem, que em vão tentava levantar-se. Ela chegou, tocou no ombro do velho homem, sentiu seu mau cheiro e sua humanidade, olhou fundo naqueles olhos de azul quase gasto e perguntou: "O senhor está bem?". Ele por um instante teve o espanto como estampa em sua face enrugada e depois disse: "Eu quero levantar". Então aquele corpo miúdo que não se sabia forte ergueu um homem grande e pesado. Ele ficou de pé e grato, com um sorriso desdentado disse um sonoro "Obrigado!". Ela também ficou grata, talvez mais do que ele. Saiu meio tonta com os olhos marejados. Até então não conhecia-se capaz de enredar tal contato: tão efêmero e profundo, tão distante e próximo. Foi aí que olhou pro chão e viu um considerável pedaço de carne em estado de decomposição, ali viu também a gênese, a força, fraqueza e paixão de todo ser humano:
"A Carne"
Depois, ela ainda tomou o café e voltou para a aula de psicologia discutir teorias... ninguém sabia, mas ela não estava ali.

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