quinta-feira, 31 de março de 2011

Palavras sem alma estão ao meu redor.
Quem fica a esperar o nunca mais?
Talvez, todas aquelas tristezas paradas.
Imobilizadas pela ausência 
de uma música que as faça dançar.

Me contaram que...

...ele estava acabado, gordo, despenteado, esparramado num banco duro de um ponto de ônibus. Jogava fumaça no ar num fim de noite com chuva. O ônibus demora a chegar e nem a música lhe faz companhia, acabou a bateria da sua tecnologia. Seus pensamentos são suicidas mal se formam e se precipatam do último andar da vida que um dia teve. O que tem pra comer na geladeira? Há certo resto de almoço? Eu vou até o terminal ou desço em algum caminho?... A espera é uma coisa a toa que sentou do lado dele e ficou a se espelhar. Ele quis desenhar mas teve preguiça de abrir a mochila. Os desenhos que nunca foram feitos são perfeitos e nunca são vistos mais que uma vez... então ele tenta parar de querer. Meninas são bonitas e agora nenhuma lhe dá bola. O ônibus chegou, ele entra sem perceber e senta e vai... quando nota já está em casa na frente do pc... vai varar a madrugada conectado... com seu perfil alternativo cheio de vídeos e sons, ali ele é bem mais visto e acessado do que pessoalmente. Tem a superfície como meta e o raso pra ele é profundo... por fim o sono o abraça. Ele dorme porque não ouve o próprio ronco. Esquece de tudo o que não passou, sonha em fazer as pazes com a solidão mas a noite é breve... Acorda fadigado e mau-humorado, procura uma meia em baixo da cama e encontra quebrado o retrato de uma felicidade antiga. Junta os cacos num canto do quarto e vai trabalhar com um sorriso nostálgico. Ele agora beira a paz.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Da janela daquele quarto vi um beija-flor parado, concentrado a ler partituras invisiveis, inscritas por uma saudade nos fios de luz que atravessam telhados.

terça-feira, 15 de março de 2011

Rap do ônibus - Projota

O pessoal de Sampa está em manifestação contra o aumento das passagens a mais de 2 meses nesse movimento saiu até música. Curtam aí...


 

Letra:
As pernas doem e o suor escorre
E vem no rosto pálido de um homem que não é ninguém
Vai trabalhar, guerreiro, vai trabalhar, bem!

Mais um dia comum na nossa vida comum, com fé
Senhor, nos leve pra onde quiser
Proteja nossos corpos e nos mantenha de pé
Que eu possa entrar e sair vivo de um metrô na Sé
Seria engraçado se não fosse desesperador
Aos olhos de quem me governa, é esse o meu valor
Sardinhas enlatadas são jogadas ao relento
Folhas secas sem vida vão levadas pelo vento
A raiva toma conta, muita treta, normal
Nasce agora um assassino serial
Prefeito que dá o aval, avisa já pra geral
“Economiza porque o buzo vai subir mais um real”
Meia dúzia na rua derruba buzo, incendeia
Alguns sem vê, sem nada, abusam e só falam da vida alheia
Mas a cidade tá cheia
Quanto mais gente, mais impostos, mais lucro pros líderes da aldeia

Me diz quem tem que acordar assim… (É nóiz!)
Me diz quem tem que acordar assim… (É nóiz!)
Me diz quem tem que acordar assim… (É nóiz!)
Me diz quem tem que acordar assim… (É nóiz!)
Ô, cobrador, deixa os menino passar
Vou sofrer uma hora e meia e ainda tenho que pagar
Libera ae, porque tá caro pra caralho
E eu não achei meu dinheiro na bosta, deu mó trabalho

Cuidado onde pisa, pois pode ser meu pé
Cuidado onde alisa, pode ser minha mulher
Veja quem manifesta, o exército de Zé
Cuidado com o que testa, pois pode ser minha fé
Meu povo quer ver melhorar
Porque dá mais trabalho chegar no trabalho do que trabalhar
Mais tarde, quando você ver o pivete roubar
É porque o pai dele tava no buzão em vez de tá lá pra educar
Meu povo tá cansado, já nem se queixa mais
Se vê acostumado e vive essa guerra em paz
Meu povo sente fome, tem que ganhar dinheiro
Pra isso precisa ser o que não quer o dia inteiro
Hoje eu vô pular catraca, na moral
Não vou pagar dois e pouco num serviço que não vale um real
Tem um pilantra comprando iate, enquanto a gente se bate
Pra pagar pra ele à vista a ceia de Natal
(Navio Negreiro hoje não difere cor…)
Amontoa e leva pra lavoura qualquer trabalhador
As mãos cansadas penduradas na barra
De uma gente que chora, mas nunca perderá a sua garra
São Paulo é uma cadeia? Faço a rebelião
Queimar colchão pra ver se alguém melhora a situação
Ninguém se move, ninguém se machucará, então
Enquanto isso eu vou cantando no buzão, assim…

Me diz quem tem que acordar assim… (É nóiz!)
Me diz quem tem que acordar assim… (É nóiz!)
Me diz quem tem que acordar assim… (É nóiz!)
Me diz quem tem que acordar assim… (É nóiz!)
Ô, cobrador, deixa os menino passar
Vou sofrer uma hora e meia e ainda tenho que pagar
Libera ae, porque tá caro pra caralho
E eu não achei meu dinheiro na bosta, deu mó trabalho


--
Movimento Passe Livre
Coletivo Joinville

terça-feira, 8 de março de 2011

Ilusão de ótica




Por que  sempre que me afasto de tudo o que tenho a fazer
as coisas parecem tão simples, rápidas e fáceis de serem resolvidas?


domingo, 6 de março de 2011

Solidão Necessária

Os solitários são solidários
mas aos homens comuns isto é hilário;

acostumados a tirar tudo de todos
desconfiam de quem ofereça
algo que não seja esmola

Para eles quem anda só é só ladrão.
Proclamam em alto som:
 - Nada de bom pode dar a solidão!

Assim caminham tão próximos que chegam
a esquecer quem são.
Sugam-se mutuamente até tornarem-se
o pó do chão.

Eles vivem em mutilações recíprocas
e pedem incessantemente pela vida alheia.

Sobre estes homens assim falou Zaratustra:

"Um procura o próximo porque
se procura a si mesmo;
outro porque gostaria de se perder.
Vossa malquerença por vós mesmos converte
vossa solidão em cativeiro" (Nietzsche)


Portanto eu vou embora
preciso de solidão.
Não posso ficar muito tempo
nesse aconchego que é você.

Receio começar os pedidos,
que são por demais excedidos.

Aliás, todo pedido é demais!

A distância salpicada por breves e bons
encontros, pode ser a melhor forma
de não perdemos o que somos.

Nos damos sem pedir,
tudo o que queremos dar
e isto basta!

Neguemo-nos ao gozo medíocre e comum
de ver o outro rastejar.
Não há nada a superar que
não seja a nós mesmos.

E assim falou Zaratustra:

"Foge, meu amigo, para tua solidão.
Vejo-te aqui atacado por moscas venenosas.
Refugia-te onde sopre um vento rijo e forte!
Foge para tua solidão." (Nietzsche)

e

"De vós que vos escolhestes a vós mesmos,
deverá surgir e crescer um povo eleito,
do qual nascerá o super-homem." (Nietzsche)

terça-feira, 1 de março de 2011

não é fim não é começo

o coração pulsa na cabeça
a vida passa
deixa as cartas sobre a mesa

um soco no escuro

um furo
minha sombra que pulou o muro
pra ver se via
o olho esquerdo do futuro

ninguém sabe ousar dizer a idade que se tem
o calendário não dá conta
da conta que foi e que ainda vem

quantos anos você tem?

quantos destes tem você?

dei-me um susto de presente
guardei no sótão do passado

agora vejo o que passou parado
como um monte de areia sem vento

os sonhos filtrados não dizem mais nada
inuteis
como facas sem corte
esperam a morte

quem sabe que não pode saber
o que sempre soube

e esquece de saber esquecer sobre isto

e também sobre aquilo

consegue entender que o vermelho e o ferrugem

fortificam os ossos

mas fazem dor ao calcanhar do tempo

e as cartas ainda estão na mesa