terça-feira, 8 de maio de 2012

fase bocó - parte I

Você é como um feijão preto no dente. Todo mundo vê você ali. Mas nessas horas minha vergonha não fala comigo. Daí sigo alheia sem saber que todo mundo já sabe. Meu fingimento disfarçado de Carmem Miranda, meu coração em corda bamba, as pernas num saculejo de samba... Você ali tão online e eu aqui nesse quase quarto tentando fazer crescer a solidão e torcendo pra não morrer de banzo. O que foi que nos desaconteceu?

quinta-feira, 8 de março de 2012


"Não há remédio que cure o que a felicidade não cura."
(Gabriel Garcia Marques - Do Amor e Outros Demônios)

quinta-feira, 1 de março de 2012

novo ser

depois de você
nada mais me agrada.
Já não escrevo nada..

nada além dessas rimas piegas
desprovidas de graça
que aqui se enroscam
toda madrugada
a chave está comigo
e a casa é sua

vivo vivendo a perguntar
sobre todas as coisas que
já não me conhecem

o tempo passa
você me esquece

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

40 graus de lembrança

Sob um sol de raio x
Sento num banco
de trafego urbano
e revisito teu corpo
palmo a palmo

lentamente...

lentamente...

A epiderme liquidifica-se
evapora
e te encontra,

te envolve
em dança
num abraço
quente

tal qual a fumaça
que lançamos
ontem

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

sem título

Sem planos de despertar
caiu o corpo de sono
nas primeiras horas
de uma madrugada

Sem convites, o sol do meio-dia
bate à janela.
Ela abre os olhos, expõe a retina,
reclama sem pesar a hora perdida.

Sem roupa, vaga pela casa
abrindo portas,
feridas
e janelas...

Sem partituras
tira com suave fúria
o som impuro
das garrafas vazias que
sobre a mesa permanecem.

Sem proteção,
no lixo,
constantes cacos de vidro
objetos de erros perdidos
que sem reflexo
espelham
caminhos de (des)constituição

Sem culpa surgem respostas
pra nenhuma pergunta
sobre o que foi
e o que virá

Sem ir ao trabalho
ela sem pressa e
sem demora
interroga
o presente e o passado:

O que me tornei?

Sem coleira o cão sem plumas
responde com olhar de torpa
canção:

ser sem eira
ser sem beira
ser sem lei
e sem pecados
que rega com prazer
seus doces frutos errados.



obs: cão sem plumas = apologia ao poema "O cão sem plumas" de João Cabral de Melo Neto.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Pequeno Sorvo de Vida Alheia

No penúltimo outubro do fim de um mundo
Madruga com a chuva um velho vagabundo
Sem camisa
Sem camiseta
Barriga inchada de tanta cerveja

Na cama pequena de um hotel barato
Divide sem tratos
seu cheiro, seu gosto,
seu espinho de cactos

Depois no banheiro
em gozo semântico
chora o velho
sem saber
a primeira morte
do último romântico.

(ou não..)