quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Identificar

Eu vejo!

Ora, o que eu vejo?

Em teu olhar um instante de desejo,
lábios vacilantes, dissimulações,
sinais que forjam constelações.

Vejo os retratos guardados,
de um tempo que se foi
e permanece como recalque,
como fragmentos oníricos,
distocidos e recorrentes.

Vejo o que me escapa aos sentidos.

E a imagem é mais nítida quando os olhos são fechados.

Há infinidades de coisas, somente assim visíveis.

A saber:

um filho ainda não nascido;

os cantos e as cores de uma casa que ainda não existe;

um passarinho verde trazendo notícia boa ou triste;

um desenho que se quer desenhar;

o sorriso de alguém que já morreu;

o rosto e o gosto de um amor que não chegou;

a satisfação de um futuro trabalho;

um brinquedo da infância;

o próximo encontro com uma amiga;

o fim de um plano não tecido;

o sol num dia de chuva;

a revolução em pleno mutantis capitalis;

tua distância esperando meu encontro...

Eis um pouco de tudo que só vejo sem olhar.

De olhos fechados ouço feliz, tudo que teu silêncio diz.

E em resposta a tua proposta, digo medrosa:

Fica pra próxima!

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