quinta-feira, 10 de novembro de 2011

40 graus de lembrança

Sob um sol de raio x
Sento num banco
de trafego urbano
e revisito teu corpo
palmo a palmo

lentamente...

lentamente...

A epiderme liquidifica-se
evapora
e te encontra,

te envolve
em dança
num abraço
quente

tal qual a fumaça
que lançamos
ontem

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

sem título

Sem planos de despertar
caiu o corpo de sono
nas primeiras horas
de uma madrugada

Sem convites, o sol do meio-dia
bate à janela.
Ela abre os olhos, expõe a retina,
reclama sem pesar a hora perdida.

Sem roupa, vaga pela casa
abrindo portas,
feridas
e janelas...

Sem partituras
tira com suave fúria
o som impuro
das garrafas vazias que
sobre a mesa permanecem.

Sem proteção,
no lixo,
constantes cacos de vidro
objetos de erros perdidos
que sem reflexo
espelham
caminhos de (des)constituição

Sem culpa surgem respostas
pra nenhuma pergunta
sobre o que foi
e o que virá

Sem ir ao trabalho
ela sem pressa e
sem demora
interroga
o presente e o passado:

O que me tornei?

Sem coleira o cão sem plumas
responde com olhar de torpa
canção:

ser sem eira
ser sem beira
ser sem lei
e sem pecados
que rega com prazer
seus doces frutos errados.



obs: cão sem plumas = apologia ao poema "O cão sem plumas" de João Cabral de Melo Neto.