18h na Rua das Barbearias
homens com sorriso de Monalisa
esperam em tranquila ânsia
o ressurgir do eterno corte de cabelo.
O tempo que carregávamos
embaixo do braço nos traiu.
Não dormimos como antigamente
e a memória tem criado bolor
nas pontas dos dedos.
Não perdoamos o tempo - ele nunca nos pediu perdão.
esperamos
envelhecemos
e o corte de cabelo dos homens permanece eterno.
domingo, 14 de agosto de 2011
domingo, 7 de agosto de 2011
O fim do mundo - João Cabral de Melo Neto
No fim de um mundo melancólico os homens lêem jornais.
Homens indiferentes a comer laranjas que ardem como o sol.
Me deram uma maça para lembrar a morte.
Sei que cidades telegrafam pedindo querosene.
O véu que olhei voar caiu no deserto.
O poema final ninguém escreverá desse mundo particular de doze horas.
Em vez de juízo final a mim me preocupa o sonho final.
Homens indiferentes a comer laranjas que ardem como o sol.
Me deram uma maça para lembrar a morte.
Sei que cidades telegrafam pedindo querosene.
O véu que olhei voar caiu no deserto.
O poema final ninguém escreverá desse mundo particular de doze horas.
Em vez de juízo final a mim me preocupa o sonho final.
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Espelho
Você disse que minha cara costumava ser mais bonita aos domingos. Tentei justificar, disse que estava cansada. Sentada no degrau da entrada da casa, sentia a umidade penetrar o corpo e observava lentamente o cair da garoa ligeira. A fumaça do teu cigarro envolveu zombeteira a sensatez dos meus raros pensamentos certos. Você nem aí. Descalço na chuva, fingia dar ouvidos ao relato arrempedido dos fatos desgraçados da noite anterior. Esvaziei a angústia. Você me deu um peteleco no nariz e entrou em casa rindo da minha meninice. Fiquei só com minhas misériazinhas e vi que ás vezes a dor é doce como sangue falso. Então levantei e me pedi desculpas.
Assinar:
Postagens (Atom)